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Exposição "Golegã - Primeiras impressões". Desenhos de Maike Bispo. De 15 de junho a 19 de agosto 2022, na Golegã

 

 

Golegã - Primeiras Impressões

Pouco ainda conheço sobre Golegã.
Vivo em um concelho ao lado e desde que estou aqui ouço falar da vila dos cavalos, dos campinos e da boa comida.

Nas primeiras vezes que vim, foi de passagem, a convite de amigos, pela culinária.
Pelos caminhos percorridos, grandes plantações, tratores, animais, muito horizonte e uma vasta área rural.
Ainda em meu primeiro ano, vim desenhar na praça com amigos Sketchers e tive meu primeiro “contato íntimo” com o estúdio Carlos Relvas e um olhar mais apurado do património edificado.
Quase nunca via pessoas pelas ruas. Encontravam-se apenas concentradas nos bares, cafés e restaurantes.

Eu a percebia como uma vila deserta, com gatos e sem cavalos.
Inicialmente vi os cavalos nas identidades dos lugares, nas esculturas, nas fachadas. Os cavalos mesmos, onde estavam?
Pouca atenção dei para Golegã.

A vila começou como um lugar discreto, demasiado sóbrio e um pouco sisudo.
Mas por algum motivo esta vila, afinal, me despertou à atenção, como se de alguma forma, ela também tivesse me achado interessante.

Então começámos a conversar mais, a olhar-nos mais, a trocar raras confidências e pequenas histórias entre nós.
Falámos um pouco sobre os avieiros, a luz e a audácia de Relvas, as mulheres de Martins Correia, o afeto de Saramago pela Azinhaga, a Reserva Natural, os rios, as aves e tudo mais.
Comecei assim por observar a Golegã de uma outra perspetiva, digamos de forma intimista, e afinal tinha descoberto as pessoas e os cavalos.
E vi aqueles homens, mulheres e crianças elegantes em seus trajes equestres, os chapéus de abas largas, mas também as calosidades nas mãos de outros. Homens gloriosos, da terra. Mulheres de força, mas maternas.

E pouco a pouco vi de tudo; jovens modernos, idosos nas bicicletas e as pessoas começaram por se agregar e fazer parte da arquitetura.

Pouco ainda conheço sobre a Golegã, no entanto não deixo de me encantar com a sua figura.
Sinto até que ela sorri e confia em mim. E agora começa por permitir algum contacto, que eu a toque nas mãos, me esboça um sorriso, conta-me piadas, fala de suas dores, dúvidas e paixões, faz-me tímidas confissões.

Mas talvez eu esteja enganado, ou apenas encantado.
E embora eu esteja aqui de coração aberto, talvez sejam apenas as minhas primeiras impressões.

Maike Bispo