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Joaquim Martins Correia

Joaquim Martins Correia


 Nascido na Golegã, a 7 de Fevereiro de 1910. Distinguiu-se no campo das artes plásticas em Portugal, principalmente na escultura. Órfão desde pequeno, na sequência da morte dos pais com a chamada “pneumónica”, ficou ao cuidado de uma senhora que o veio a colocar na Casa Pia. Com o nº 393, ingressou na Casa Pia, em Novembro de 1922, onde concluiu o curso industrial, tendo-lhe sido concedida uma bolsa de estudo para frequentar a Escola de Belas Artes de Lisboa, onde se matriculou no curso de desenho no ano de 1928, apesar de se ter diplomado em escultura.

 Iniciou uma longa atividade profissional na pedagogia da arte, ainda como aluno, quando foi encarregue, pela direção da Casa Pia de Lisboa, de auxiliar os professores de desenho da escola. De 1936 a 1938, foi professor do Ensino Técnico Profissional, na Escola Rafael Bordalo Pinheiro nas Caldas da Rainha, e em Lisboa, nas Escolas Marquês de Pombal (ano letivo de 1938/1939), Machado de Castro (1939/1940), Afonso Domingues (1940/1941) e António Arroio (1941/1942).

Começou a expor no ano de 1938. Em 1940 os seus trabalhos mereciam destaque na exposição da Missão Estética de Viana do Castelo, onde o Cruzeiro do Minho mereceu referências de primeira página no Jornal "O Século". Esteve presente na Exposição do Mundo Português, em Lisboa, com os escultores Barata Feio, Leopoldo de Almeida, Canto da Maia, António da Costa, Rui Gameiro, Francisco Franco, António Duarte e João Fragoso. Durante os anos de 1936 e 1942, participou assiduamente nos salões do SPN-Secretariado de Propaganda Nacional, sendo premiado em escultura, assim, como nos salões da Sociedade Nacional de Belas Artes. De 1944 a 1945 esteve em Espanha e Itália, com uma bolsa de estudos que recebeu do Estado. Nesta década Martins Correia acumulou os Prémios Nacional da IV Missão Estética de Férias de Viana do Castelo (1940), do Mestre Soares dos Reis (em 1942), do Mestre Manuel Pereira, nos anos de 1943 e de 1947, de Escultura do Secretariado Nacional de Informação, do Salão de Lisboa de 1947 e ainda, a 1ª medalha do III Salão Provincial da Beira Alta (1949). Em 1951, tornou-se Presidente da Secção de Cultura Artística da Sociedade de Geografia de Lisboa. Em 1957, faz uma exposição individual na Galeria do Diário de Noticias, pela qual obteve o prémio Mestre Luciano Freire, da Academia Nacional de Belas Artes, sendo também Medalha de Prata da Junta de Turismo de Cascais. Foi ainda condecorado com a Ordem da Instrução Pública, pelo Ministério da Educação Nacional. Seis anos depois obtém o 2º prémio com o Monumento ao Padre Manuel Nóbrega/ em São Paulo, no Brasil, e com o Monumento à Mulher Portuguesa do Ultramar.

 A Rádio mereceu também o seu contributo ao realizar em 1965, o programa “Assuntos de Arte”, na antiga Emissora Nacional.

 A sua estatuária é composta de originais soluções decorativas policromáticas que aligeiram as suas figuras do solene compromisso oficial, sobretudo a partir de 1968 com a utilização de intensos vermelhos, ocres, pretos, verdes, brancos, azuis e amarelos, pintados nos materiais escultóricos.

 Das obras mais representativas de Martins Correia, algumas, estão expostas em espaço público e acessível a todos os cidadãos. Na Golegã, os relevos em bronze, no Palácio da Justiça, dignificam a sua fachada principal; o painel em cerâmica , de sete metros por três , exposto na fachada da sua Casa Convívio, com motivos fragmentados de representação dos desenhos coloridos expostos na Dinamarca, a estátua “A Camponesa” e o grupo escultórico “O Povo de Amor Cantava”, são disso exemplo. O seu nome, foi dado à Escola E.B. 2,3/ S do Concelho.

 Em Lisboa, a sua exposição vai desde a composição escultórica no Café Império, até à decoração da escadaria da sala de receções do Hotel Ritz, passando pela estátua em pedra de D. Pedro V, na Faculdade de Letras, pelo relevo "A Justiça e o Povo", no Palácio da Justiça, pela rainha Santa Isabel de bronze, instalada na Biblioteca-Museu Luz Soriano da Casa Pia de Lisboa, pela estátua de granito rosa representando Fernão Lopes, patente na Biblioteca Nacional de Lisboa, e pela decoração artística da estação do Metropolitano de Picoas e do átrio da Torre Vasco da Gama, no Parque das Nações. Martins Correia trabalhou muitos anos num atelier da Câmara Municipal de Lisboa e realizou alguns trabalhos para jardins e edifícios municipais, como a estátua em pedra de Bartolomeu de Gusmão, tendo sido membro do Conselho de Arte e Arqueologia da Câmara Municipal de Lisboa. A Câmara Municipal de Lisboa, um ano após a sua morte homenageou este exímio artista, escolhendo para o efeito a via pública junto à sua arte inscrita nas paredes do Metropolitano de Lisboa, na estação de Picoas, atribuindo, assim, o seu nome ao arruamento constituído pela passagem publica entre a Avenida Fontes Pereira de Melo e a Rua Eng. Vieira da Silva, na Freguesia de São Jorge de Arroios. Em Lisboa, a sua estátua de Garcia de Horta embeleza o Instituto de Medicina Tropical.

 Em Castelo Branco, a de Amato Lusitano; em Viseu, a do Infante D. Henrique; em Pinhel, o grupo escultórico em bronze do Palácio da Justiça; tal como a decoração dos Palácios da Justiça na Figueira da Foz e em Leiria, acrescendo, neste ultimo, também a escultura da Justiça que decora a fachada. Do seu vastíssimo espólio distribuído pelo País incluiu-se também a estátua do Papa Pio XII, para a Exposição de Arte Sacra Missionária, realizada no Mosteiro dos Jerónimos , que foi oferecida ao Seminário de Almada.

 Também fora deste Portugal à beira mar plantado, o Mestre perpetuou sua obra fazendo em gesso a estátua do Santo S. Francisco Xavier, em Goa, aquando do seu centenário. Em 1958, ainda para esta cidade, executou, as estátuas em bronze de Luís de Camões, que lhe valeram o Prémio Diário de Noticias. Na cidade de Lourenço Marques, hoje denominada Maputo , realizou a decoração escultórica da Capela do Paquete de Vera Cruz, as estátuas de Dada Vaidia e as dos quatro evangelistas, em pedra, para a Catedral de Bissau, bem como os bustos em bronze de Jaime Cortesão, Augusto de Castro, Nuno Simões, Olegário Mariano, Miguel Torga, Fernando Namora, Natércia Freire, Sofia de Mello Breyner e a estátua de Bartolomeu Dias (1973). A sua obra retratava bem o pensamento deste artista que considerava que «(…) a arte do século XX será (…) idealista e poética ao mesmo tempo que popular» e « (…) nenhuma coisa pode ser nacional, senão é popular». Mestre Martins Correia foi também membro do Conselho Técnico de Exposição Portuguesa do Rio de Janeiro, assim como, fez parte das exposições internacionais do Rio de Janeiro, de Bruxelas, na Ibero-Americana de Barcelona, e na de desenhos de Lausanne, na Suíça. Em 1971, foi Prémio de Grande Mérito Artístico na Exposição de Lourenço Marques.

 Em 1973, foi convidado pela Sociedade Nacional de Belas Artes a fazer uma exposição retrospetiva onde apresentou 300 obras de escultura, desenho, medalhística e desenho colorido, versando sobre o período de 1939 a 1973. No dia 24 de Março, desse mesmo ano, proferiu a sua última lição na secção casapiana de Pina Manique e das várias cerimónias que assinalaram a sua despedida ficou também a sua condecoração com a Ordem de Santiago da Espada. Sete anos depois, na década de oitenta, como decano dos escultores casapianos, também não faltou à Exposição Casa Pia de Lisboa /200 Anos – Artistas Casapianos.

 Em Novembro de 1982, foi homenageado, aqui na Golegã, em cerimónia presidida pelo então Presidente da República, General Ramalho Eanes, com a inauguração da sua estátua “A Camponesa”, defronte à antiga Cadeia e Estação Telégrafo, e a abertura do Museu Municipal Martins Correia, com um vastíssimo espólio doado ao Município, dois anos depois.

 No ano de 1990, voltou a ser agraciado com a Ordem de Santiago de Espada (grau de Grande Oficial), pelo Presidente da República, Dr. Mário Soares, distinção que assumiu como sendo a sua arte a ser medalhada. Foi igualmente galardoado no estrangeiro, nomeadamente na Noruega, com o Prémio Internacional de Gravura, e em Bruxelas, com o Prémio Internacional de artes Plásticas. Temas como o cavalo, o touro, a terra e a mulher, são representativos nas suas obras, evidenciando a ligação profunda de Martins Correia às suas raízes goleganenses, ribatejanas e portuguesas. Está representado no Museu de Arte Contemporânea de Lisboa, no Museu Soares dos Reis, na Invicta, no Museu Regional de José Malhoa, no Museu de Arte Moderna de Madrid e claro, neste Museu.

 Até à data da sua morte esteve representado em apenas algumas coleções particulares, porque não gostava de vender a sua obra como refere no artigo “Martins Correia – Um escultor com o condão da poesia”: “Sempre me custou muito vender as coisas, por isso é que tenho assim tanta coisa acumulada. Tenho muitas coisas que as pessoas até querem comprar quando vêm , mas também uma grande insuficiência que é não terem, de facto, dinheiro para as comprar. O nosso trabalho tem que ser um dia compensado. Ou em vida, que é a minha, ou então na minha ausência . Mas paguem, pelo menos, isso que eu fiz, tenho uma obra pouco basta”.

 No decorrer da sua vida Mestre Martins Correia também colaborou para a Antologia Poética da Mulher com 26 desenhos coloridos, foi vogal efectivo da Academia Nacional de Belas artes e ainda conseguiu tempo para publicar um livro de poesia/poemas. Em 1998, nesta vila, inaugura a estátua “O Povo de Amor Cantava”, junto à Igreja Nossa Senhora dos Anjos. A Galeria Verney, em Oeiras, prestou-lhe homenagem no dia do seu 90º aniversario de nascimento, nos denominados “Encontros de Escultura” com a presença do Presidente da Câmara Municipal da Golegã, Dr. José Veiga Maltez, Dr. Nuno Lima de Carvalho e Professor escultor Lagoa Henriques, que abordaram a arte escultórica deste Mestre goleganense.

 Falecido aos 89 anos, no dia 30 de Julho de 1999, o Mestre Escultor Martins Correia deixa uma obra que marca várias décadas da escultura, que o torna um dos maiores escultores portugueses do século passado.

 Uma das suas últimas preocupações foi a conservação do seu espólio, pois encontrava-se num edifício setecentista, sem condições para seu acolhimento. O pelouro da Cultura da Câmara Municipal, em 2002, projeta a sua transferência para o edifício Equuspolis, pensado para o acolher com dignidade e para que as gerações vindouras dele possam desfrutar, o que se veio a verificar em 10 de Maio de 2003.

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